Projeto Crenças e práticas parentais na criação de filhos gêmeos e não gêmeos: bem-estar materno e desenvolvimento socioemocional infantil
A criação de gêmeos é marcada por circunstâncias únicas que a diferenciam da criação de não gêmeos: as crianças encontram-se na mesma fase de desenvolvimento, suas características físicas e psicológicas podem ou não ser parecidas e os pais necessitam dividir cuidado, atenção e recursos entre os filhos. Os pais enfrentam o desafio adicional de estimular o desenvolvimento da individualidade dos gêmeos, sem que isto prejudique a qualidade da relação entre eles. A criação gemelar é custosa no que diz respeito a saúde física e psicológica dos cuidadores, especialmente das mães. Estima-se que entre 50% a 70% delas apresentem depressão transitória (Benute et al., 2013).
As crenças parentais podem moldar as práticas parentais, padrões de comportamentos, atitudes e emoções que os pais expressam na criação de seus filhos, com um importante papel no desenvolvimento emocional, social e acadêmico das crianças. Essas práticas são de três tipos: autoritativo (alto controle e alta responsividade por parte dos pais); autoritário (alto controle e pouca responsividade) e negligente (baixo controle e baixa responsividade). A responsividade parental é caracterizada pela capacidade dos pais de se preocuparem com o bem-estar da criança, através da demonstração de afeto, suporte emocional e participação ativa em atividades cotidianas. Já o controle é caracterizado pelo estabelecimento de limites e supervisão dos pais em relação ao comportamento e atividades das crianças. Os estudos e teorias sobre crenças e práticas parentais foram desenvolvidos no contexto da criação de crianças únicas. Faltam estudos sobre crenças e práticas parentais de gestações múltiplas.
O objetivo do presente projeto é estudar:
a) o bem-estar e crenças e práticas parentais de mães de gêmeos (monozigóticos e dizigóticos) e não gêmeos (irmãos com pouca diferença de idade e filhos únicos) e b) o desenvolvimento da regulação emocional das crianças. Participarão do estudo 500 mães de gêmeos, 250 mães de não gêmeos e 250 mães de filhos únicos na faixa etária de 4 a 10 anos. A coleta de dados será feita por meio de questionários. Serão usados os seguintes instrumentos: 1) Questionário de Zigosidade; 2) Inventário de práticas parentais; 3) Escala de Bem-Estar Subjetivo; 4) Escala de regulação emocional; e 5) Entrevista semi-estruturada sobre metas de socialização, além de questões sociodemográficas. Estes instrumentos serão aplicados através de formulário online e divulgado através das plataformas digitais do Painel USP de Gêmeos.
A fim de explicar a relação entre as variáveis de interesse (descritas na Figura 5), utilizaremos a modelagem de equações estruturais que nos permite verificar as inter-relações expressas em uma série de equações, semelhante a equações de regressão múltipla. Tais equações descrevem as relações entre constructos envolvidos na análise e nos permitem discriminar quais são fatores latentes (Hair et al, 2006).