Gêmeos são uma janela para a natureza humana (Segal, 2010). Constituem experimentos naturais para examinar hipóteses geradas pela teoria evolucionista. A teoria da aptidão abrangente propõe que a seleção natural favoreceu as características que aumentaram as chances de sobrevivência individual ou sucesso reprodutivo e que aumentaram as chances de sobrevivência ou sucesso reprodutivo de parentes. Como esperado pela teoria da aptidão abrangente, os gêmeos MZ, que partilham 100% dos seus genes, relataram níveis mais elevados de vinculação aos seus irmãos, maior compatibilidade, e relações sociais mais estreitas do que os gêmeos DZ, que partilham em média 50% dos seus genes (e.g., Danby & Thorpe, 2006; Landenberger et al., 2021). MZ também mostram maior disposição para brigar e para se sacrificar pelo seu co-gêmeo, maior disposição para doar órgãos, vivência mais intensa de luto e redução mais lenta do luto pelo falecimento do irmão gêmeo ao longo do tempo do que DZ.

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Gêmeos separados ao nascer, criados em ambientes diferentes, e reunidos quando adultos podem ser considerados o melhor experimento natural para testar hipóteses relativas a relações de parentesco e relação entre estratégias de história de vida e resultados comportamentais (Segal, 2011). Na nossa opinião, estudos sistemáticos de casos aprofundados com gêmeos reunidos realizados em contextos da vida real, seguindo um método de investigação formal, complementam as pesquisas com testes de hipóteses realizadas com gêmeos.

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Estamos realizando os primeiros estudos de caso sistemáticos com gêmeos brasileiros criados separados desde recém-nascidos e reunidos na idade adulta. Eles se inspiram no Minnesota Study of Twins Reared Apart (MISTRA) [Estudo Minnesota de Gêmeos Criados Separados] realizado durante duas décadas, no final do século XX, e continuado no Twin Study Center da California State University (CSU), Fullerton [Centro de Estudo de Gêmeos da Universidade do Estado da California, Fullerton]. Esta pesquisa foi estimulada pela parceria de pesquisa entre o Painel USP de Gêmeos (Otta et al., 2019) e o Centro de Estudos de Gêmeos da CSU (Segal & Niculae, 2019). Demos início a esta linha de pesquisa com dois estudos de caso com gêmeos MZ:

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• Separados como recém-nascidos, TO e GA encontraram-se com 23. Um vivia em Fortaleza e o outro vivia em Uberaba. Eram muito parecidos fisicamente. Outras semelhanças chamam atenção. Os próprios gêmeos se surpreenderam ao perceber que ambos eram fotógrafos. Um trabalhava num Museu e o outro era fotógrafo freelancer.

 

• Separados como recém-nascidos, VI e GA encontraram-se com 24 anos. Eram muito parecidos fisicamente. Como no caso da primeira díade, outras semelhanças chamam atenção nesta díade. Eles se encontraram porque um deles publicou um vídeo cantando no Youtube e o outro assistiu. Ambos eram cantores Gospel antes de se encontrar.

O nosso estudo está sendo realizado com foco nas semelhanças e diferenças de comportamento, interesses, e características psicológicas dos irmãos. Os gêmeos estão sendo entrevistados separadamente por duas integrantes da Equipe do Painel USP de Gêmeos usando a versão brasileira da Entrevista de História de Vida do Estudo de Minnesota de Gêmeos Criados Separados (MISTRA). Este protocolo de entrevista foi traduzido do inglês para o português brasileiro, adaptado culturalmente e resumido para uso no Brasil pela equipe. Os principais tópicos da entrevista foram: as circunstâncias de separação e adopção, reunião e contato com o irmão, características sociodemográficas, casa e família, relações e eventos da vida, histórico de saúde e medidas físicas, atividades religiosas, educação e ocupação profissional. Além das entrevistas, completaram uma série de questionários e instrumentos de avaliação psicológica. Esta linha de pesquisa foi iniciada com a consultoria de Nancy Segal, membro do MISTRA e Diretora do – Director of the Twin Studies Center, California State University, Fullerton, California, USA. A nossa meta é a comparação entre gêmeos monozigóticos criados juntos e separados e gêmeos dizigóticos criados juntos e separados. Entre as análises já planejadas está o estudo da voz de gêmeos criados separados e reunidos na idade adulta. Para isto, a coleta de dados foi feita com a mesma metodologia do estudo Paralinguagem: Caracterização da voz de irmãos gemelares – Estrutura acústica e Zigosidade sob coordenação da Profa. Monticelli (FFCL USP-RP).

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