Pesquisa sobre cooperação
O Painel USP de Gêmeos está com uma nova pesquisa, e desta vez ela é sobre cooperação entre irmãos gêmeos!
A pesquisa é dividida em duas partes. Na primeira, enviaremos um formulário para ser respondido pelos pais. Na segunda, pediremos que as irmãs e os irmãos sejam gravadxs realizando uma atividade simples e divertida de desenho conjunto.
Se você é mãe ou pai de gêmeos entre 5 e 10 anos, não deixe de participar.
Os requisitos para participação são:
- as crianças serem irmãos(ãs);
- as crianças terem entre 5 e 10 anos;
- as crianças terem, no máximo, 2 anos de diferença.
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Projeto Comportamento cooperativo: análise comparativa do auto-relato parental com a observação da interação entre irmãos(ãs) gêmexs
Nas últimas duas décadas, observa-se uma mudança de ênfase quase exclusiva no estudo da influência dos pais no desenvolvimento dos filhos, e principalmente da mãe, numa visão de via única, para um aumento do interesse de psicólogos do desenvolvimento pelo estudo das relações entre irmãos para compreender melhor os fatores que influenciam a qualidade destas relações, sua interface com as dinâmicas familiares e as consequências para o desenvolvimento dos indivíduos. Apesar do relacionamento entre irmãos ser um dos relacionamentos mais duradouros da vida, é muito menos estudado em comparação ao relacionamento com os pais. Dentro da temática dos irmãos, ainda menos estudados são os gêmeos, apesar de serem conhecidos por ter uma relação afetiva única e íntima, um vínculo cujas implicações nos interessa compreender.
O tema que nos interessa investigar no presente projeto é a cooperação e outros comportamentos pró-sociais. Comportamentos cooperativos estão presentes em diversos aspectos da vida humana, com diferentes graus de simetria no que diz respeito à retribuição pelos beneficiados. O tema pode ser abordado do ponto de vista das causas próximas (porquê causal e porquê ontogenético) e do ponto de vista das causas últimas (função e história filogenética da espécie humana). A Teoria de Seleção de Parentesco (Hamilton, 1964) nos permite refletir sobre as implicações das influências genéticas em comportamentos de cooperação. As diferenças entre MZ e DZ podem ser interpretadas à luz desta teoria, que diz que quanto maior a semelhança genética entre dois indivíduos, maior a tendência de ajudar, o que resulta em favorecimento de sucesso reprodutivo e a consequente propagação do material genético compartilhado.
Estudos anteriores indicam que os MZ são mais altruístas (Segal, Connelly, & Topoloski, 1996), mais cooperativos e menos competitivos quando comparados aos irmãos DZ (Segal, 2002), têm vínculos mais fortes (Tancredy & Fraley, 2006), além de mostrarem maior predisposição para se sacrificar pelo irmão gêmeo (Tornero et al., 2018). De acordo com Plomin, Defries, McClearn e McGuffin (2001) gêmeos MZ são mais parecidos em inteligência e tendências temperamentais do que os DZ. Um mecanismo envolvido é a interação com alguém parecido, física e psicologicamente, o que garante uma melhor qualidade da relação (Fortuna, Goldner e Knafo, 2010). No entanto, outros estudos investigaram a qualidade do relacionamento entre gêmeos e prosocialidade e não encontraram diferenças entre MZ e DZ (Mark, Pikel, Latham & Oliver, 2017; Yirmiya, Segal, Bloch & Knafo-Noam, 2018).
No presente estudo, investigaremos se aspectos como proximidade, dependência dominância, rivalidade e conflito, relatados pelos pais de gêmeos por meio do Questionário de Relacionamento de Gêmeos (Fortuna, Goldner & Knafo, 2010), se relacionam com a frequência de comportamentos de cooperação e competição emergentes durante a execução de uma tarefa de Desenho Conjunto, a ser aplicado e filmado pelos pais de acordo com Protocolo de Pesquisa por nós desenvolvido.
A pandemia de Covid-19 nos levou a passar de coleta de dados face-a-face para coleta remota de dados. Já tínhamos começado a coletar dados com 10 pares de gêmeos de 5-8 anos de idade observados durante uma tarefa conjunta em nosso laboratório. Eles sentaram-se diante de uma mesa, ao lado um do outro, e foram filmados enquanto completavam um quebra-cabeças (Fig. 6). Os vídeos foram analisados usando uma lista de categorias comportamentais baseada em Segal (1984), incluindo: (i) tempo durante o qual os irmãos estavam mutuamente envolvidos na tarefa, (ii) tempo durante o qual apenas um irmão estava envolvido na atividade, (iii) tempo durante o qual o quebra-cabeças permanecia equidistante entre os irmãos, (iv) tempo durante o qual o quebra-cabeças estava mais próximo de um dos irmãos. Hipotetizamos que os gêmeos MZ trabalhariam mais um com o outro, enquanto que os DZ trabalhariam mais individualmente.
Substituímos o quebra-cabeças por um desenho feito em conjunto pelos gêmeos sentados diante de uma mesa um ao lado do outro na própria casa deles. As mães responderam online à versão brasileira do Questionário de Relacionamento de Gêmeos (Fortuna, Goldner & Knafo, 2010). Aquelas que concordaram com a participação dos seus filhos na atividade de desenho receberam um vídeo com instruções detalhadas sobre a tarefa do desenho e como filmá-lo (Almeida, 2020). Concluímos que conseguimos converter com sucesso o obstáculo imposto pela pandemia de Covid-19 num procedimento interessante e viável de pesquisa.
Na nossa equipe de pesquisa temos discutido a ciência cidadã, a participação dos membros do público em geral sob a direção de pesquisadores profissionais para construir conhecimento científico (Riesch & Potter, 2014; Tauginienė et al, 2020). Com protocolos de investigação bem descritos, podemos levar a investigação para além do laboratório e tirar as nossas conclusões sobre amostras maiores e mais diversificadas do que seria possível em cenários laboratoriais normais.
A Professora Sylvia Corte (UDELAR) com sua equipe está coletando dados com o mesmo protocolo de pesquisa no Uruguai. Timon Lebaron-Khérif (University Sorbonne Paris Nord) está traduzindo o Questionário de Relacionamento de Gêmeos para o francês, assim como o nosso Protocolo de Pesquisa, devendo dar início à coleta de dados sobre cooperação em gêmeos na França durante seu estágio no Laboratório de Etologia do IPUSP, usando o protocolo online que desenvolvemos.